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domingo, 2 de janeiro de 2011

Rara

"Com seus os olhinhos de avelã
E a bochecha cor de maçã
Acorda o sol de manhã
Quando levanta
Voz mais doce não há,
Nenhum canto de pássaro
Canto mais bárbaro
Não poderia existir
E se saudade matasse
E se morto falasse
E se eu te encontrasse
Eu então poderia dizer
E eu diria calado
Entorpecido, amordaçado
Eu daria o meu coração
embebido em júbilo e embalado
Ao som da nossa canção."

sábado, 25 de dezembro de 2010

Branca Rotunda

Um sorriso particular, cor de prata reluzente, um furo no escurão. Sobrevoa toda a gente e
descansa na poça do chão. Deita o meu olho de cão, na imensidão índigo do céu, esconde o sol ardente. E as figurantes, pedacinhos de papel de bombom, dançam paradas ao som do vento. É de açúcar... ou é de sal, ou de giz, ou é só luz em forma de bola. A calma e a solidão em forma de bola. A minha alma, em forma de bola.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Terra

Me deixa dançar
Nas terras nuas desses olhos
Pular a fogueira que arde nua
Nesses olhos
Eu queria tanto repousar
No teu colo nu
Comer ainda cru
Tudo em você
Que me enche a boca d'água
Os olhos d'água
Tocar a sua pele de terra,
Sentir seu cheiro de floresta
E a tua voz
Ah como eu queria...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Estrelinha

Desponta no couro rosa do crepúsculo,
A primeira, pontual.
Repousa serena no colo da noite.
Boia no petróleo da noite.
E quando a noite quer parir a aurora,
No meio das nuvens nacaradas
A pequena estrela se disfarça,
Eu espero sua graça
Amanhã.

Estrelinha, estrelinha
Estrala no céu azul
Estrelinha, estrelinha
Durma bem, estrela do sul

Bronzeia o meu dedo estendido,
Desejoso de fogo.
Perturba minha paciência.
Eu, mesmo tão ávido,
Me contento em contemplar,
Contemplá-la... me completa.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cântico MCXXII

"Como na era do deus-sol
lembranças de um piano descendente de tempos
em que desertos circundavam estas terras.

Palavras vestiam mantos de ministros
e coroas de princesas aladas na escuridão do tempo
o tempo da juventude sem futuro e sem passado. Pois
o jovem não tem planos, apenas moedas estrangeiras
para adoração de formas esverdeadas nas cédulas caducas
mas devera modernas, que escondem em suas
calças largas roubadas de seus pais de bigodes.

A mente nunca esteve tão clara e decidiu tão grandes pensamentos
quanto quando tínhamos 16 anos. E as folhas que esconderas nos livros
ainda as guardo, e não lamento nada, nenhum poema,
nenhuma lágrima, nenhuma noite sóbria de medos e ternuras entre selos.

Assim fecho o livro de cantigas e berceuses, entre cravos e amarílis
sem ainda saber o fim do livro e sem protagonistas.
Mas entre acordes menores e blue notes
nas estrelas mal nascidas através da janela
numa enorme caixa de papelão, canto a luz
e a cor que podemos ver, sempre e sempre, e que não envelhecerá."

(Cecília S.)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Quero-te bem

É uma ânsia que inflama, estorrica. Minha pobre alma, tão rica jamais seria, se não fosse tua.
É essa ânsia que incandesce, que perturba. A minha calma, tão distante não estaria, se não fosse tua presença. É burlesco, mais que tão sublime. É pitoresco, mais humano que divino. É carne, desejo fresco. É outono que me despe. É a música que me conduz, à tua cama. Como quero a essa chama,
quero te bem, quero-te bem mais do que poderia. Quero-te bem aqui.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Ninguém Nunca Amou Completamente

Vou deitar-te na eternidade, que é esse o teu lugar, é esse, é esse. E agora só tenho que te amar tudo de ti, não deixar nada de fora. Porque, sabê-lo-ás? Nunca ninguém amou completamente, houve sempre uma forma de amar fragmentária, parcial. Amou-se sempre em função de uma fracção do amor como se usou um vestuário segundo a moda, desde o calção ou o penante de plumas. Vou-te amar como Deus. Não, não. Deus não sente prazer nem movimento progressivo até ao prazer, coitado, é tão infeliz. Vou-te amar como um homem desde que os há, desde o tempo das cavernas até hoje e com um pequeno suplemento que é só meu.

Vergílio Ferreira, in "Em Nome da Terra"